Gerlandy Leão

 

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Um ponto! Ele era um mísero ponto, minúsculo, único e quase imperceptível.

Lá estava ele parado numa folha de papel não sei se A4, 40 kg, pardo, sei que estava lá. Sua presença não manchava o papel, ao passo que quem olhasse para o local só visualizaria a folha ignorando a presença do pequeno ponto. Ali, apesar de sentir-se solitário, sabia que era necessário. Não reclamava consigo porque não sabia o que era ser algo além de ponto. Sabia que sua existência era primordial para a Geometria e continuava na sua função.

 

Um dia, uma Reta parada ao seu lado indagou-o sobre a sua relevância e ridicularizou-o, ignorando que qualquer tracejar ou qualquer outra forma geométrica surgia a partir de um ponto. A Reta perguntava se ele não se envergonhava de ser aquilo. O que era ser um ponto? Por que ser um ponto idiota? Preferiu não responder, pois achava desnecessário discorrer sobre algo que gostava de ser e não conseguiria convencer ninguém. Mesmo visto como um idiota sabia da sua função.

 

Percebeu, certa vez, a presença de algo próximo. Parecia a sua duplicação, mas se tratava de outro pontinho ao seu redor. Como isto lhe chamava atenção. Semelhante a si, mas ao mesmo tempo distinto. Adorou a sua presença e algum tempo depois apaixonava-se pelo outro, sendo convidado para trilhar caminhos. Pouco a pouco foi acompanhando e via que em breve tornavam-se uma reta. Perguntou-se como podia sentir-se bem em ter outro ponto, mesmo que este ficasse de um lado extremo e longe da reta.

Logo foi interrompido pela informação de que ambos não poderiam ser uma única linha. Já existia outro ponto, já existia uma reta. Atordoado recebeu o convite para que continuasse na relação geométrica, juntos poderiam formar um triângulo.

 

 

Apesar de perturbado, achava que podia ir mais além, até porque estava cada vez mais interessado. Ficava na ponta do Triângulo Isóceles com dois lados congruentes e ele com a menor reta. Mesmo assim não se incomodava, aquela era uma forma perfeita, pois apesar da menor parte, contentava-se com sua pequena colaboração na sua formação, idealizando, quem sabe um dia, ser equilátero. Porém, em pouco tempo viu o triângulo ameaçado de desmanche. Oh não , um novo ponto aproximava-se. Atormentou-se até sair da forma, preferiu ficar ao lado. Assistia a continuidade do triângulo, mas agora sem sua presença.

Ponto novamente voltou a ser. A vida que anteriormente não o incomodava agora o enchia de tédio. Antes sabia da sua importância, mas agora indagava O que sou?. Agora sim, sentia-se um ponto miserável, medíocre e desnecessário. E assim ficou por muitas folhas de papel. Foi sondado novamente por aquele tempo, recebendo o convite para voltar a fazer aquelas viagens sinuosas de antigamente.

 

Não gostava da solidão na folha de papel, mas se recusava a se formar com outro ponto senão aquele de suas viagens. Portanto, aceitou formar o Quadrilátero com a promessa de que se trataria de um quadrado composto pelos quatro lados iguais, assim não existiria privilegiados. Mesmo sabendo da existência de dois outros pontos, sentia-se uma reta e, portanto, satisfeita. Mas com o tempo voltou a se incomodar com dúvidas. Queria entender realmente qual a sua função. Acreditava se tratar de um Quadrilátero, tinha certeza que não surgiria nenhum outro lado naquela forma, mas de fato, perguntava-se do que se tratava, se de um retângulo, losango ou trapézio. E era exatamente essa medo que o pertubava tanto. Seria novamente a menor reta da forma? Angustiado também se perguntava Por que voltar a ser ponto? para que ser um ponto? Ah, tantos lados o incomodava demais, mesmo assim não se expressava, não mostrava seu medo. Apenas se contentava em pelo menos ser uma forma geométrica, mesmo sendo um Quadrado amoroso, pelo menos não era mais apenas um ponto.

 

No fundo, o que ele almejava era formar uma circunferência, unida, inquebrável e impenetrável por outro ponto. Que idéia! Esse ponto parecia sair mais de livros paradidáticos de contos de fadas do que dos livros de Geometria com sua Matemática sempre racional. Mas ele falava, Não me custa nada sonhar.

 

 

Inspiração: Se eu contasse… Mas complemento dizendo que gostava de Geomeria analítica plana. Hoje não lembro mais de nada, mas fui só citando algumas bobagens.

Imagem: Uma figura qualquer que encontrei na net com muitos pontos.